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O reinado sobre o nada.
![]() Primeira parte- O senhor. A simples menção da primeira cortesia engatilhava o largo sorriso, que era apresentado de pronto. Isso era normal àquele tempo. Receber convidados em sua sala espaçosa, mas delicada, idealizada por alguma mente obsessiva pela leveza dos atos. Mas atos leves ali não existem. Mesmo com todas as fantasias engravatas em forma de pérola. O ar não circula, sufocando conscientemente todos que ali conversam, sob a tutela de um senhor. O senhor, e somente assim é conhecido. Não se sabe sua origem. Nobre é o que dizem. Sua côrte não se preocupa de forma séria com a questão, mas reiteram toda vez que exigido pelo olhar a sua natureza pura, módica, sincera e honestamente nobre. Tantos adjetivos podem conviver numa mesma conversa diante do próprio e somente dele. Ele se ergue imperiosamente, e todos se assustam com seu ímpeto. Ele não anda, pensavam muitos, pois desde os remotos tempos ele ali já estava. Sentado. Prostado. Imóvel. Havia uma temerosa contradição entre o que viam e o que pensavam. Melhor acreditar que tudo ele pode. Melhor pensar que o poder é proprio senhor. O olhar caído pelo tempo o fazia naturalmente capisbaixo. Pele enrugada e pesada. Ossos de passarinho, beirando a idéia de ocos e frágeis com a mais leve tensão entre os dedos. Mas resistia. Seu caminhar se entregava a uma imensa dor, quase calvário se não fosse ele acima de Cristo em altivez. Agonia intensa, que incutia aos observadores o mais íntimo desejo de senti-lo se desfazer em pó e ventania. Abaixa a cabeça. O senhor está passando. Honrarias. |
1 Comentario(s)
todo poder advém de uma mentira. e a nobreza...a mim só me vale a da alma, fugidia das raízes ontológicas da própria palavra.
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