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Sobre as coisas que nunca falei
![]() Parte 3 Espero nunca ser correspondido por ninguém em meus sentimentos. Para que nunca mais seja um mortal como outro qualquer, e finalmente possa tomar parte da trindade divina que quero reinventar, nos meus vastos delírios. Em qualquer lembrança, a janela da sala sempre está aberta. Fixa em seu destino traçado em seu torneado rústico, continua olhando para rua, cortando a brisa da tarde e espalhando na casa um perfume de terra seca. Enquadrando em termos as pessoas que passam. Sorrindo apenas em alguns relances fugazes. O seu acompanhante de todo dia se debruça sobre dorso largo, envolvendo-o como um abraço. Como se fosse possível. Como se fosse provável. Como se fora sempre lua. Isto é coisa do dia que vira noite, diria minha avó, percebendo minha intimidade. Não conseguiria explicar a ela a cientificidade do eclipse e suas leis físicas do previsível. O dia que vira noite tem uma magia diferente na sua voz e seu olhar, agora enrugados e ásperos. Sentimento do devaneio condensado dos beijos que ela trocou com o único homem que amou, ou um dos vários que passearam por seu corpo e a fizeram intensamente humana. Tenho medo de me tornar humano. Um medo tão intenso, que torna dor aquilo que somente é desejo. E ser um plágio imperfeito dos doces romances de minha avó. Morrendo aos poucos pelos pedaços que deixou com outros que vagam pelo destino. Daquele que possui um corpo, mesmo que leve e singelo nos seus traços, brota um modesto laço com a realidade e a lama. Dando a permissão imediata e inequívoca para que o vidro quebrado corte, o gelo no chão queime e que o cansaço sobreponha a vontade de levantar da janela para fechá-la. Por possuir um desejo e um receio inevitável de ser tocado e começar pouco a pouco a me materializar frente a sua vista, eu busco minha proteção. E para não ajoelhar respirando compulsivamente pela transformação instântanea do ato e sentir seu calor me cativando o bastante para que me entregue em seu colo, eu corro nos caminhos que seu corpo não indica. E para sentir meu senso sobrenatural da trindade dos deuses, eu me calo. Para logo depois, você ir. E levar um pedaço dos meus complexos, daquilo que sempre quis que estivesse com você. Sinceramente... Espero nunca ser correspondido por ninguém em meus sentimentos. Por ocasião do sentimento, .../.../ 2017, entrego-me em teus braços. |
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