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Correspondência.
![]() Caminhada larga e pesada. Na companhia de muitos, "me convenço com um pouco de dificuldade", e é verdade no final das contas (eu acho...). Figurantes de um grande cenário, atores de uma peça megalomanÃaca e palhaços de um circo sem tenda. Tem para todos os gostos e sabores, céticos reprimidos, impotentes sexuais e paranóicos homicidas, observando cada beco escuro das esquinas (como se os outros lugares não fossem escuros o suficiente para esconder o que eles querem reprimir...). As árvores ao menos ainda são verdes e marrons como meus desenhos de infância que mostrava sorridente pra minha mãe, cozinhando rápido para sair para o trabalho. Meus rasbiscos eram toscos e nada pareciam com qualquer ser existente nessa terra. Mas minha professora teimava em considerá-los como qualquer outra casa da minha rua, sapato de executivo de uma grande empresa ou pessoa feliz com sua família (embora exista uma grande e larga senhora fome no mundo, nunca vi pessoas magras como palitos, entretanto não acho deselegante ser magro, só me deixa a impressão de que sempre falta alguma coisa). Minha mãe dizia que meus desenhos eram de um planeta que eu vivia quando era bem pequeno, e meu pai morava lá agora. Explicação razoável, e me dava uma grande alegria por não ter nascido neste mundo da professora. Se tem algo que aprendi neste meio tempo de liberdade infantil á ter cuidado com as correspondências. Disso me lembro bem (com carinho, eu acho...). Num falo somente em não abrir as cartas dos adultos (minha mãe sempre reclamou quando eu fazia, principalmente as contas sempre em letras vermelhas). Não abra as cartas sem ter ao menos feito uma coisa que você gostaria de ter feito antes. Esta é a regra. Não acredita? Concordo que não se recebe mais cartas nos tempos dos emails e emoticons, mas isso é fruto da crescente máquina que está constituindo nossos corpos a cada nova geração. As cartas de papel tem um sotaque diferente, elas falam de verdade da carne e do sangue daquele que escreve. Romântico você diz. Sincero, eu completaria. Uma carta selada tem uma forçaa desmedida em relação ao seu tamanho, peso e cor. Ela derrubou impérios no passado, qualifica os carteiros enquanto tais num presente tão confuso e guarda lembranças pro futuro, numa caixa velha e empoeirada nas mãos enrrugadas pela saudade e tempo. Certa vez, quando tinha quinze anos, e neste tempo já sabia cozinhar algumas coisas, recebi a primeira carta em meu nome. Aquilo me deu uma felicidade descomunal! Senti vontade de enorme de gritar pra minha mãe e falar que aquela carta eu poderia rasgar e ler sem problemas, sem reclamações e ela daria aquele imenso sorriso de aprovação. Minha mãe estava no trabalho, só voltaria amanhã, depois de 15 dias de viagem. Abri a carta, não podia esperar tanto para me sentir tão independente. " Comunicamos o falecimento da Sr (a) .... por motivos ainda não identificados, pedimos que os familiares compareçam ao Centro Médico... " O borrado começou a tomar conta das páginas e as letras se misturaram. Penso até hoje que se tivesse esperado mais um dia para falar a minha mãe da carta, ela teria morrido na minha frente (num súbito suspiro, doce e calmo...) e poderia té-la abraçado pela última vez. Suposições você diria. Convicção, eu gritaria com um grande sorriso no rosto. Desde então todas as cartas são elas mesmas e podem mudar tempo, espaço e forma, ainda que sejam unicamente cartas. Escrevo cartas para aqueles que amo, sinto e vivo. Espero que falem tudo o que precisam me dizer antes lerem. Eu o farei sem ressentimentos. |
3 Comentario(s)
A caneta não é menos dissimuladora que o teclado... As únicas coisas realmente sinceras são o olhar, o toque, a voz... E mesmo com a sinceridade de que não se tem como abrir mão, às vezes nos deixamos enganar por atores que se pensam melhores do que são.
Mas o nariz da caneta não cresce quando ela mente... E nela não podemos acreditar mesmo quando ela acha que não mente... Mas ela não pode abrir mão de sua duplicidade...
P. S.: Gostei do Template! Depois me ensina a colocar coisas na barra de status!
Agradeço pelas visitas.
Estou ainda me esvaziando para a segunda tese da superficialidade. Está difícil de sair pois ela é um dos meus pilares, e a autocrítica é sempre inconstante e com parto demorado.
Fiquei muito feliz por alguém ter vindo visitar (até uma desconhecida-conhecida...) um espaço íntimo transvestido em contos e poemas.
Acho que estou mais tranquilo hoje, embora ainda tenha que resolver para onde o decimo oitavo anjo irá, após a rejeição pelo céu e pelo inferno, e sentir falta apenas (na verdade não se trata de qualquer tipo de cobrança ou corda, apenas devo ter errado em continuar a não rejeitar as expectativas)...
Abraço aos que me tocam...
qnt ao post... engraçado como já o comentei antes mesmo dele existir... ou ser feito. XD
qnt ao template... farei mais comentários pessoalmente, mas, por ora, apesar de amar vermelho... está MUITO vermelho...!!!!
besitoooooos!!!
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