terça-feira, novembro 15, 2005
Parenteses...

Peço desculpas car@ leitor@.
Sempre reservei este espaço para falar coisas que acho e sinto sobre o mundo e a forma que vivemos este imenso paradoxo. Quando pensei neste "canto", conscientemente foquei como um dos objetivos falar de maneira simples, eficaz e instigadora (embora não saiba ter sido eficaz ou pouco me importando com isso...) sobre o modo de vivência capitalista, as incongruências da vida (e sua contradição ocidentalizada sobre o pensar e o fazer) ou a fantasia da filosofia institucionalizada.
Mas hoje quero falar sobre mim e somente isso.
Reservo este "direito" sem precisar dar qualquer justificativa (ou melhor, a minha vontade é o que constitui cada palavra aqui exibida), e novamente sinto muito por aqueles que aguardavam uma atitude diferente ou "genial" de minha parte...
Sempre pensei ser mais forte do que procuro transparecer as pessoas, assim como minha carne demonstra àqueles que me cercam (e com algum sucesso consigo não fazer a correspodência entre o que sinto e o que exibo). Não sei como comecei, nem quero parecer terminar colocando como última justificativa meu passado. Não vou me sentir culpado por um fato que me transpassa, mas tenho que começar admitindo que se existe é por que teve a minha condescendência.
De fato, quando desloquei minha própria consciência do centro do meu mundo (vivendo nas pessoas que amo...) esqueci de avaliar que meu corpo e minha mente ainda existiam e não estavam imunes a dor e aos sentimentos. Logicamente, eu sabia por que continuava sentindo(contudo negava copiosamente), mas, como se fosse a mais brilhante das idéias, resolvi absorver parte por parte, com o meu próprio sangue e sentido. No começo eu era difícil segurar cada nova decepção, inversão ou colocação que atingia meu corpo de maneira direta e perfurante. Entretanto o tempo foi me ensinando os caminhos, e a cada nova ferida, a cura se tornava mais rápida. Imperceptível. Silenciosa. Intensa.
Mas hoje compreendo qual é o ônus de ser um muro impermeável e inabalável a qualquer coisa que possa tocá-lo. As rachaduras não fecham, e a estrutura vai sendo comprometida a cada novo toque, muito embora o muro permaneça intacto, imóvel e onipotente em sua casca sorridente.
A algum tempo o muro começou a cair, e o estrondo não acordou a vizinhança. O que sobrou foi uma pequena criança que cansou de chorar a bastante tempo, mas não sabe o que fazer com a vontade de o fazê-lo. Escreveu este texto sem responsabilidade, culpa ou desejo, algo mais próximo de uma fotografia preto e branco, imortalizada.
Embora tenha assistido todo esse tempo a este filme numa poltrona confortável, a ficha finalmente caiu. Embora tenha compreendido que preciso das pessoas para me sentir completo, nunca pensei precisar e depender tanto delas pra me sentir feliz. Embora tenha consciência do lixo que sou e da não necessidade das pessoas em me dar qualquer "contrapartida" por conta disso, eu ainda sinto. Embora tenha medo em machucar as pessoas como o fazia nos tempos em que não me importava com qualquer coisa do tipo, eu continuo machucando por não me sentir livre o bastante para somente amá-las da maneira que elas podem... (e com isso não quero que pensem que estou colocando a culpa por todo bem que já me fizeram- eu sou uma pessoa diferente hoje pelos toques e sentimentos que recebi daqueles que superaram muitas coisas, inclusive íntimas, para demonstrar que se importam comigo- se não tivessem arriscado ir em frente, nunca teria compreendido a importância disso, acho que tenho um defeito de fábrica no final das contas...)
Neste tempos próximos, cada tijolo cai como uma sequência de cartas marcadas, e minha cabeça dói a cada novo pedaço pesado, sólido e certeiro que decorre da imaginação lógica da punição divina. Queria sair deste mundo. Mas é uma fuga menos covarde do que inútil.
Neste contexto de espelhos quebrados e uma imagem repartida nos cacos, sei que minha atitude mais previsível é... sorrir. Um sorriso lacônico, pré-moldado e tão falso como os do passado. Queria aprender a chorar novamente e deixar que os fantasmas saiam da minha casa abandonada. Será que existe um painel para apertar o "reset"?
Compreendi isto a pouco tempo, a poucos dias na verdade...
Estou no real hoje.
Sem abstrações criminosas, piloto automático ou qualquer tipo de subterfúgio indolor. E o que me digo? Não sei... O que sinto? Não sei... O que vivo? Não sei... O que preciso? Daquilo que talvez encontre em mim mesmo algum dia...
Acho que o copo derramou... posso começar a limpar mais tarde...
Abraços a todos que conseguiram chegar tão próximo...
Obs: Agradeço sinceramente as três meninas que acompanharam o colecionador de sonhos na sua imensa e não acabada caminhada, sei que certas coisas não se agradecem, mas apenas se guardam. E embora possam pensar na noite de lua cheia do ontem, este texto não está direcionado a vocês. Saibam que vocês três não foram apenas algumas daquelas pessoas que colocaram o muro abaixo, mas que (mesmo arriscando coisas valiosas próprias ou alheias) me ensinaram a falar, para não ter que reconstruí-lo sozinho... a estrada continua, e o que me constitui é o simples fato de não poder ver o final...
Colocado por Valdemiro as 12:15 PM

3 Comentario(s)

Anonymous Anônimo coloca...

Pôr os muros acima ou abaixo, fazer pontes... A vida é um eterno construir... e desconstruir. Ainda bem que podemos dividir o peso dos tijolos com os amigos, certo?
E cá eu sorrio (tristemente, mas sorrio)... E sorrio por você.

15 novembro, 2005 23:42 
Blogger André coloca...

Um homem aproxima-se. Não traz, como de outras vezes, um balde com argamassa e uma colher de pedreiro. Ele suspira, um pouco... Desapontado? Aliviado? Não sabe, sabe apenas que, apesar de todas as suas tentativas, havia adivinhado que este dia chegaria. No lugar de suas ferramentas, traz apenas uma toalha, que busca proteger da fina chuva que cai. Ele a quer seca.
Pulando as pedras, os cacos, os tijolos quebrados, ele aproxima-se da criança. Talvez ela pense que este seja seu salvador, alguém que vai ajudá-lo a refazer o muro; ou talvez alguém que, movido pelo desejo sádico de provar que estava certo, soltará um "eu não disse"... Nada disso importa enquanto ele segue, inexorável em seu propósito.
Ele chega, encarando a criança confusa. A toalha encontra seu lugar sobre os ombros dela, acompanhada de um par de braços e de um corpo dispostos a dividir seu próprio calor.
"Não posso fazer mais nada agora. Mas ainda assim estou aqui."

André - Tudo acontece nessa semana...

17 novembro, 2005 06:51 
Blogger Liu Lisboa coloca...

não sei mais como olhar para teus sorrisos. a bem da verdade, nunca soube. sempre houve algo de estranho neles, mas nunca soube o quê. hoje sei, vejo o seu sorriso e fico triste. não me permiti ler seus olhos...peço sinceras desculpas.

19 novembro, 2005 20:42 

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