quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Sobre as coisas que nunca falei




Parte 3


Espero nunca ser correspondido por ninguém em meus sentimentos.
Para que nunca mais seja um mortal como outro qualquer, e finalmente possa tomar parte da trindade divina que quero reinventar, nos meus vastos delírios.
Em qualquer lembrança, a janela da sala sempre está aberta. Fixa em seu destino traçado em seu torneado rústico, continua olhando para rua, cortando a brisa da tarde e espalhando na casa um perfume de terra seca. Enquadrando em termos as pessoas que passam. Sorrindo apenas em alguns relances fugazes. O seu acompanhante de todo dia se debruça sobre dorso largo, envolvendo-o como um abraço. Como se fosse possível. Como se fosse provável. Como se fora sempre lua.
Isto é coisa do dia que vira noite, diria minha avó, percebendo minha intimidade. Não conseguiria explicar a ela a cientificidade do eclipse e suas leis físicas do previsível. O dia que vira noite tem uma magia diferente na sua voz e seu olhar, agora enrugados e ásperos. Sentimento do devaneio condensado dos beijos que ela trocou com o único homem que amou, ou um dos vários que passearam por seu corpo e a fizeram intensamente humana.
Tenho medo de me tornar humano.
Um medo tão intenso, que torna dor aquilo que somente é desejo.
E ser um plágio imperfeito dos doces romances de minha avó. Morrendo aos poucos pelos pedaços que deixou com outros que vagam pelo destino. Daquele que possui um corpo, mesmo que leve e singelo nos seus traços, brota um modesto laço com a realidade e a lama. Dando a permissão imediata e inequívoca para que o vidro quebrado corte, o gelo no chão queime e que o cansaço sobreponha a vontade de levantar da janela para fechá-la.
Por possuir um desejo e um receio inevitável de ser tocado e começar pouco a pouco a me materializar frente a sua vista, eu busco minha proteção. E para não ajoelhar respirando compulsivamente pela transformação instântanea do ato e sentir seu calor me cativando o bastante para que me entregue em seu colo, eu corro nos caminhos que seu corpo não indica.
E para sentir meu senso sobrenatural da trindade dos deuses, eu me calo.
Para logo depois, você ir.
E levar um pedaço dos meus complexos, daquilo que sempre quis que estivesse com você.
Sinceramente...
Espero nunca ser correspondido por ninguém em meus sentimentos.
Por ocasião do sentimento, .../.../ 2017, entrego-me em teus braços.
Colocado por Valdemiro as 8:28 PM 0 Comentário(s)

terça-feira, fevereiro 14, 2006
O reinado sobre o nada.

Primeira parte- O senhor.

A simples menção da primeira cortesia engatilhava o largo sorriso, que era apresentado de pronto.
Isso era normal àquele tempo. Receber convidados em sua sala espaçosa, mas delicada, idealizada por alguma mente obsessiva pela leveza dos atos.
Mas atos leves ali não existem. Mesmo com todas as fantasias engravatas em forma de pérola. O ar não circula, sufocando conscientemente todos que ali conversam, sob a tutela de um senhor.
O senhor, e somente assim é conhecido.
Não se sabe sua origem. Nobre é o que dizem. Sua côrte não se preocupa de forma séria com a questão, mas reiteram toda vez que exigido pelo olhar a sua natureza pura, módica, sincera e honestamente nobre. Tantos adjetivos podem conviver numa mesma conversa diante do próprio e somente dele.
Ele se ergue imperiosamente, e todos se assustam com seu ímpeto.
Ele não anda, pensavam muitos, pois desde os remotos tempos ele ali já estava. Sentado. Prostado. Imóvel. Havia uma temerosa contradição entre o que viam e o que pensavam. Melhor acreditar que tudo ele pode. Melhor pensar que o poder é proprio senhor.
O olhar caído pelo tempo o fazia naturalmente capisbaixo. Pele enrugada e pesada. Ossos de passarinho, beirando a idéia de ocos e frágeis com a mais leve tensão entre os dedos.
Mas resistia.
Seu caminhar se entregava a uma imensa dor, quase calvário se não fosse ele acima de Cristo em altivez. Agonia intensa, que incutia aos observadores o mais íntimo desejo de senti-lo se desfazer em pó e ventania.
Abaixa a cabeça.
O senhor está passando.
Honrarias.
Colocado por Valdemiro as 8:46 AM 1 Comentário(s)

terça-feira, fevereiro 07, 2006
Hurt


I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hold
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything
What have I become
My sweetest friend
Everyone
I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here
What have I become
My sweetest friend
Everyone
I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way
Colocado por Valdemiro as 2:33 PM 1 Comentário(s)