sexta-feira, outubro 28, 2005
O cárcere sem muros...

Dizem que nos últimos dias do horizonte das lendas, os quais deuses e homens ainda conviviam em luta e liberdade pela dor e satisfação daqueles que existiam, havia um copo de barro cozido, do qual se extrai um pó de terra molhado.

O copo, jogado no chão arenoso, não tinha luxo ou poder para oferecer, apenas desejo... tragado aos poucos, sorvidos sem presa. E todos os dias, deuses e homens cortavam um pouco de seus pulsos e colocavam no copo de barro inerte seu sangue, para que ele pudessem aprisioná-los sem muros de concretos, aço ou tijolo, amarrando-os por forças ocultas a um outro que ali também depositava sua contrapartida latente.
Após a viagem dos deuses e seu completo desaparecimento, os humanos desesperados perderam a crença no rito, desejando apenas estar sozinhos o bastante para não lembrar do amor dos deuses, de outros homens e do seu sangue saboroso. O copo se perdeu no tempo, e acabou se degradando, voltando ao ventre da mãe Terra. Entretanto a lama formada pelo sangue de deuses e humanos foi espalhado por meio daquilo que a mãe terra oferece voluptuosamente a humanidade, seu alimento, sua casa e seus passos. E assim nasceu a necessidade do próximo, da corrente e do desejo.
Poucos conhecem a origem da crença e do ato, mas todos sofrem de seu malicioso e ingênuo fim, da sua imperiosa vontade do concreto de uma prisão sem muros, que não pode ser tocada e que nem ao menos tem guardas vigilantes dia e noite, apenas um portão aberto a sua frente. A mais í­ntima contradição e completude humana do sentir em liberdade.
A dor do copo de barro se perpetua em oculto.
O desejo do rito antigo cresce em silêncio nos corredores e ruas das cidades grandes, esquecidas ou natimortas, escrevendo poemas nos muros, espelhos embaçados ou na terra molhada pela chuva da tempestade.
Sinto-me bem assim.
Sabor colorido
Geraldo Azevedo

Mel... eu quero mel
Quero mel de toda flor
Da rosa, rosa, rosa amarela encarnada
Branca como cravo, lírio e jasmim
Eu quero mel pra mim
Mel... você quer mel?
Quero mel de toda flor
Da margarida sempre viva, viva
Gira, gira, girassol
Se te dou mel pode pintar perigo
E logo aqui, no meu quintal
Cuidado, pode pintar formiga, viu?
Mel... eu quero mel
Quero mel de toda flor
Colorido sabor... do mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro
Que beija um beijo, doce sabor
Sabor colorido
Mel... eu quero mel
Quero mel de toda flor
Da assussena, violeta, flor de lis
Flor de lótus, flor de cactos
Flor do pé de buriti
Dália, papoula, crisântemo
Sonho maneiro, sereno, fulô do mandacaru
Fulô do marmeleiro, fulô de catingueira
Fulô de laranjeira, fulô de jatobá
Das imburanas, baraúnas, pé de cana
Xique-xique, mel da cana, cana do canavial
Vem me dar um mel que eu quero me lambuzar
Mel... eu quero mel
Quero mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro
Que beija um beijo, doce sabor
Sabor colorido
E por mais que você tente... estará ainda lá, até que se revolva todo o ventre da terra e de seu corpo...

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sábado, outubro 22, 2005
O colecionador de sonhos (segundo império)

Dia 9 do primeiro tempo após a consumação dos seres humanos


Carta a primeira que povoa a terra estéril (aquela que deslumbra a decomposição do insensato),

Seu corpo está desconfortável nesta posição. Assim está melhor? A terra batida pode ser traiçoeira em alguns pontos. Não agradeça com este sorriso, apenas fiz uma obrigação, não há porque continuarmos nesta ficção do mais do mesmo. Não muda de assunto, humana ingênua, pensa realmente que irei me deixar levar com isso? Você acha realmente que estou ficando velho? Não acredito.

Sorriso.

Não me lembro do último momento em que nos divertimos dessa forma. De qualquer jeito estar aqui é um risco a minha existência, assim como é pra você mesma. De fato, estamos aqui parados a olhar um para os detalhes do outro a algum tempo. O que eu vejo neste lugar?

Encontrei em você três outras que me surpreendem...

A primeira é sol, não combina com a melancolia desta terra, inverte os polos dos atos, investe em alegria sua essência. Eu a chamaria de Sakura. Esta é minha menina, não é doce mas torna os fatos assim, ao seu redor não existe penumbra, por isso tantos apresentam-se a sua luz, como cães a seus donos.

A segunda é espaço, a determinação em princí­pio, nada a detêm assim como ninguem pode tocá-la. Força em movimento e caos em sua lógica. A jovem Hitsuko é a construção do novo, a herança do ímpeto humano de modificar e criar, conquistar e ressurgir. Ela mantem seu corpo vivo, pois se as outras duas se encarregassem disso, não teriam disposição para cuidar de suas necessidades básicas e nem de expandir seu terreno conquistado.

A última é sua revolução, a destruição de tudo que se coloca enquanto existente, inclusive você mesma. Isso não significa rebeldia sem causa, mas a própria essência do existir ou não. Sua tempestade, por mais que possa parecer paradoxal, espalha cinzas e a própria Fenix não pode ser o que ela é diante do olhar de Yumi. O que perpassa a esterilidade deste mundo se conecta com cada ato e pensamento, passo e resistência de uma mulher que não só destrói, mas passa a fazer com que as coisas tenham nunca existido, por mais que elas tentem fazê-lo. Yumi é... emoção e indiferença, em proporções inconsequentes.

Como? Não sei quem está diante de mim e nem qual seria o motivo de qualquer uma das três vir a transparência dos sonhos . E por mais que questione, para mim em especial, este dado não tem importância. Qualquer uma das três completam meu cárcere, embora todas elas constituam uma só prisão. Não sei o que te levou a me visitar neste dia estranho de tempestade, sol, nuvens e lua. Mas quero te abraçar e sentir cada vez mais os seus espinhos. Qual é a graça? Não sou maluco, mas com certeza sou irritante, o que não significa que você também não seja.

Olhares.

Se você é idiota? Concordo, mas no final das contas eu também sou. Seres humanos não cabem em fotografias, e isto o seu povo esqueceu. Pensaram que televisões, carros, cinemas, poderiam ser vida e isto tudo junto não pode gerar nada mais do que rotina e marionetes, por isso já estavam mortos antes daquele momento que criou isso em que estamos. Essa é a causa de você estar aqui e a humanidade ter perecido, você é a idiota que vive e sofre, cai na lama e quebra perna. Mas tambem sonha e me envolve, e esta é causa de minha prisão, finalmente compreendi, um colecionador de sonhos só existe para aquele que vive mais do que tudo.

Apesar deste ser o seu mundo e só você viver nele (e isso tornar-la em tese a pessoa mais egocêntrica da face desta terra), o fato de me perceber é simplesmente a sua contradição. Deita um pouco no meu colo, não quero que seu corpo sofra quando acabarmos este sonho. Se você não me permitisse ser real, não haveria diferençaa entre você, seu corpo e seu mundo. Existiria apenas um maciço de matéria e insensatez. Se você fosse este amorfo de coisas, não tentaria me proteger ou se proteger daquilo que não existe, por que só existiria você.

Sinto, não é minha intenção te deixar confusa, isto não é o papel de um mero colecionador diante daquela que dorme tão calmamente ao meu lado.

Apenas não quero que deixe de sonhar e acabe com minhas correntes. Que insensatez não? Eu também não compreendo isso no meu consciente, mas compartilho essa incoerência com você, aliás, não há muita gente pra se fazer isso por aqui. Nós humanos precisamos necessariamente de um pouco de veneno. Afinal esta é a diferença entre o arremesso e vôo, apesar dos dois terem um ponto final.

Você já está indo, eu sei. Embora não exista dia neste mundo, nenhum corpo foge a domesticação de anos acordando "cedo". Espero que volte... quando tiver vontade... eu... estarei. O que é esse olhar? Por que me disse entre vocês humanos? Por que eu sinto e gosto... e se no limiar da insconstância existe, intimamente é eterno (e complexo, por certo), se está feito... é capaz impossível...

...daquele que ainda guarda um caminho no labirinto e uma chave enferrujada.

Um sonho nunca será o real, apesar de sempre acompanhá-lo no seu simples caminhar.

Colocado por Valdemiro as 6:27 PM 3 Comentário(s)

sábado, outubro 15, 2005
Primeira tese sobre a superficialidade

A Superficialidade do Encantamento

Não compreendo o que você busca neste lugar.

Havia entendido em algum momento de minha vasta falta do que fazer que os seres humanos são previsí­veis dentro de sua mediocridade, mas grandiosos nas suas loucuras diárias. Isso me diverte, mas não me leva a nenhuma conclusão digna da nossa atenção.

Já que me recebe em sua liberdade...

__________

O não-Deus reunido com todos os demônios ali presentes começou a gritar suas exigências do acordo feito entre eles. Não havia resistência entre os demônios para cumprir seu papel no acordo, entretanto eles entendiam perfeitamente aquela atitude desvairada do ser incompleto a sua frente. Sem tempo, ou marca para o cumprimento, o primeiro efeito do pacto era causar uma enorme dor aos envolvidos, principalmente àquele que estaria presente a todos os momentos das exposições das teses.

Eles sentiram um enorme prazer oculto com isso.

Não entenda como uma atitude bestial ou corrompida. Eles foram apenas verdadeiros.

Segundo o canto e os fragmentos antigos o primeiro demônio se desgarrou subitamente dos outros e ao estar completamente colado ao Não-Deus em face e corpo, tirando qualquer fôlego de resistência ou receio, subjugando de forma completa e inusitada...

Ele o divertiu.

O pedaço seguinte (visto que a continuidade parece ter sido perdida, pois a história se torna desconexa) descreve os lábios carnudos do Não-Deus, lamentando o sangue que escorria de sua boca.

"matéria e matéria minha"
"de fato posso encantar e assim serei parte de nós"
"um Não-Deus em dois e em vários"
"da face pra fora adentro seu ser..."
"... e escondo a pedra que irei te possuir"



A partir daquele momento o EM-Deus passou a existir e assim foi chamado.

Encantamento do Pão e Circo.

Nunca se soube ao certo como tamanha temeridade pode acontecer no ambiente "bárbaro", mas o Império existiu. Não se quer aqui colocar uma supremacia européia em virtude das esquecidas histórias africanas e latino-americanas, belas e sangrentas mas não tão previsiveis como Dom quixote. O que se quer se dizer é que o fragmento existiu.

Acredito que a tese do encantamento foi encontrada por algum servo ou escravo e guardado a sete corpos em algum lar da famí­lia romana. Mas as notí­cias correm e se aproximam dos grandes centros de poder (ou de decomposição...), até se perceber o que se tinha nas mãos. As elites parasitas, utilizando os conhecimento ali descritos (ou sendo utilizados pelo próprio fragmento, que possui a vida do primeiro demônio, afirma alguns...), incorporavam o povo no espaço do inexistente e da exploração brutal. A violência era o alicerce necessário àqueles que fugiam do encantamento. A morte o sonho eterno.

A primeira tese sustentou todo o império, mas concedeu a ele o poder de sua ruí­na.

Pão e circo, isto foi extamente o que o primeiro demônio ofereceu ao Não-Deus, o fragmento era claro neste sentido. Os conscientes do seu significado, ou melhor, os poucos que como o servo que o encontrou (e melhor achou devolvê-lo a seu sepulcro) e por bom senso tentaram perdê-lo novamente, foram mortos e estilhaçados pela elite romana. Ela teve a primeira consequência da superficialidade, o encantamento daqueles que sobre exploração existencial, foram devolvidos ao mundo da alegria e do cortejo.

A minha superficialidade era do sonho e não da dor.

Não preciso que acredite em mim, como já falei, mas você pode duvidar de você e isto será sua perdição... deixe-me levá-lo...

O Império, numa revolta popular (organizada a partir de um esforço conjunto de metade de Roma na grande insurreição) que até hoje não foi se quer confirmada (isto necessariamente levaria a cobiça do fragmento...), foi condenado e o fragmento, em sua perfeita forma essência, foi ocultado pelos tempos. Aqueles que fizeram a revolta utilizaram um pano nos olhos daqueles que ficaram responsáveis em dar fim ao fragmento, e por isso puderem manejar através de aprimoramento dos sentidos até este local desconhecido.

Sem a base e as descrições do Fragmento (já que ninguém pode conhecer de todo ele, apenas algumas partes, de forma que o Pão e Circo era perfeito somente com o Fragmento em mãos...) , o Império perdia o poder de conter a fúria daqueles que eram consumidos vivos em sua condição não imperial, e por isso foi consumado em pó e terra, somente regado a violência.

Cópias parciais do Fragmento do encantamento foram feitas a época e ainda hoje circulam em nossos tempos (é certo que uma rede de televisão a possui), mas utilizadas dessa forma, acabarão sendo destruí­das pela mesma revolta popular, a própria história já afirmou isto muitas vezes. Alguns dizem que o Fragmento previa a morte daqueles que se servissem dele, pelo desejo da reunião dos demônios restantes, desequilibrados pelo ato do Em-Deus.

A contradição gera a luta (...).

Não afirmo isto, mas meu desejo e perdição o gritam.

Estou cada vez mais impotente diante do fato, homem e poder.

Isto terá um fim.

Colocado por Valdemiro as 11:40 AM 2 Comentário(s)

sexta-feira, outubro 14, 2005
Efeito da lua cheia...

Alguns me dizem que ele decide meus sentimentos enterrados...
Mas apenas acordou um canto em tantos gritos do previsí­vel e da histeria...
Não me sinto melhor assim, contudo não sei se será preciso me preocupar com mais esta normalidade.

No Surprises

A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal
You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent, silent
This is my final fit, my final bellyache with
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises please
Such a pretty house, such a pretty garden
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises please (let me out of here)
Colocado por Valdemiro as 6:57 PM 0 Comentário(s)

quarta-feira, outubro 12, 2005
Fragmentos...


Sou eternamente dispensável.

Fico feliz de ter percebido tal marca antes do fim do dia. Espero acompanhar os ventos do centro sul e aguardar uma mera finalidade acessória de mim mesmo.

Sem descanso, nem pausa para um lamento que não irá me acompanhar.

O costume é um triste fim do acaso.
Colocado por Valdemiro as 9:00 PM 0 Comentário(s)

...crise insuspeita.

Se você me encontrar em qualquer esquina, não pergunte.

Faça seu aceno normal, aquele tão corriqueiro que nem se quer lhe oferece resistência muscular ou só provoque aquela dor nos ombros e lhe prova que ainda está vivo. Vire a cabeça lentamente para frente com este sorriso falso que carrega e perceba o exato momento em que não estarei olhando para você, aproveite, e se depare sendo corroído com a velha ansiedade de relaxar cada expressão facial modelada, mas para sua decepção...

Eu estarei encarando...

Não se trata de gosto pessoal ou desejo masoquista de esperar até que a última gota de sangue caia na fresta dos paralelepí­pedos, somente continuarei com um olhar fixo (de peixe morto diz a criança que te acompanha), insistente e completamente fora dos padrões daqueles que lhe dão ordens todos os dias de sua miserável "existência normal". Não é hora de sentir medo ainda, e nem de alargar os passos (aliás, as crianças gostam de se divertir, pare de puxá-la!), assim não vou poder me mexer e ir seguindo seu cheiro fétido de conformidade, os cães de caça precisam ao menos de um rastro, isto que você chama de instinto é a mais pura racionalidade intrinseca, talvez infantil (a criança se diverte comigo, é sua filha?). E quando me pediu que fosse embora e pra longe, numa fala atrapalhada e embolada...

Já havia agachado e começado a falar com ela...

Não se parece com você, e isto é o que alivia o meu sincero ego de não ter cópias suas espalhadas em cada canto desta cidade cinza. Voar, ela diz, e você nem se quer consegue imaginar o que é andar sem o peso de malas, dinheiro, celular e uma boa roupa importada. O tempo parece estar a meu favor, minha linguagem é pesada e lenta a ponto de enjoar seu organismo frágil, e em tão poucos minutos (horas e dias...) de conversa com sua filha. Vê esse olhar discrente dela... parece que você não é mais o seu herói. Ei! Não sou culpado de suas atitudes hipocritas e nem precisei de tecnicas de manipulação em massa para provocar a fúria desvairada desta pequena, a menina parece ter nojo de você a cada momento a mais que convive. Moral e famí­lia são conceitos seus, ou será que nem isso foi capaz de pensar por si só, aliás, não espero esse lapso existencial de um ser que nem pode dizer não ou sim por inteiro, e implora para ficar engaiolado todos os dias para não se contaminar com gente como eu, mas por mais que se esforce...

O ví­rus está corroendo sua lógica, casa, sentido...

Contratou um psicologo, você me diz. Talvez anestesiando ela numa cama de hospital branca e cercada de máquinas de pouco barulho e muita graciosidade, além de bailarinas enfeitadas de branco com facas cirurgicas, você possa segurá-la com correntes e dizer feliz aniversário numa data qualquer que você nunca se lembra. Mas ela continuará olhando e você vai continuar a bater sem nenhuma restrição ou prescrição médica, até que ela se canse e emita uma risada patética, nada mais merecido e refletido. E quando você cruzar novamente a rua, em desespero acuado, como um bicho inominado, para qualquer lado que olhar...

Eu estarei em silêncio...

E isto te incomoda. Eu sei. Você virá conversar comigo, e se perguntará por que veio sentar-se ao meu lado. Discretamente, levantarei e com um ritmo doce falarei sobre sua morte, seus receios e seu medo, pois não sou sua oposição e sim a fundamentação de seu inferno, realidade e indecência. Continue a me negar e apenas afirmará minha existência e sua incapacidade de se fundir a mim, acabarei como você, mas você nunca poderá acabar com meu olhar, minha voz e nosso lamento.

Não olhe mais no espelho, não quero que me confunda com você.

Colocado por Valdemiro as 10:07 AM 0 Comentário(s)

sábado, outubro 01, 2005
Império da superficialidade perdida

Princí­pio.

Isto terá um fim.

Não se decepcione ainda, pois o que digo não nasceu de um destino puro e certo até o ponto de lhe causar uma nausea precoce ou um grande desprezo dessa vida.

Melhor, prefiro que resista com seu ímpeto de nojo e descrença, antes que sejam arrancados com seus olhos e colocados de molho numa grande cerimônia de comemoração ao seu enterro.

No final das contas, eu não sinto sua dor.

Um fim é o ponto necessário. Lógico. Incontornável.

As pessoas evitam discutir essas coisas nos tempos felizes, nessa indecisa atualidade incestuosa, ou ao menos,nunca atinaram para o fato de que quase todas as suas incertezas foram sequestradas por algum paladino da justiça,canções de ninar ou o bom dia mecanicamente elaborado com tanta perfeição desde seu nascimento.

Prefácio

Todas as histórias começam com "a algum tempo atrás", mesmo que escondido entre virgulas. Ninguém foge ao tempo.

Exceto esta, que pariu a história, mesmo sem o auxí­lio da senhora tempo (assim se inicia o debate dos povos sem gênero, sem qualificar divinos másculos para supor ou femininas para crescer).

Afinal, não havia ainda nascido O Deus, a senhora tempo e a morte.

Vários fragmentos do conto foram encontrados nos tempos de hoje, e estão sob o poder de grandes corporações empresariais, igrejas, partidos ou do esquecimento. O pacto de silêncio nasceu da abiogênese e do medo daqueles que o viram (despedaçados e desconexos) e encontraram um fim.

Os idiomas dos pedaços amorfos dos manuscritos (e não me entendam mal se os chamo dessa forma, afinal, comunicação escrita não tem que ser comportadas em letras) não precisam ser mencionadas, foram gravados em desenhos fraturados e sons dissonantes, perceptí­veis a cada detalhe nefasto de sua sequência.

Não vou me deter mais a detalhes de coerência. A mim não importa se acreditem ou não no fato, pois, é fato por si só, e eles não se importam com opiniões exclusas da sua credibilidade provinciana ou de sua moralidade media.

O conto começa em tradições orais em todos os lugares possíveis (é dificil acreditar nisso sem uma mídia empresarial, mas como disse antes, não me deterei numa coerência explicativa cientí­fica, pois tenho pressa...e minha terra corre.), e repete nas mais diversas possibilidades:

"...corre, corre, corre, eis que foi chamado!"
"convoque a fantasia daquele coroado"
"incompleto de nascença"
"poderosa imposição, do responsável em terno pranto"
"pelo vazio e servidão"
Deus foi formado, em pequenos retalhos superpostos, de cada parte onde não se sabe ao certo a origem, somente sua origem. Aquele que era ainda não-Deus convocou a reunião das partes, as quais se chamavam demônios (acredito que o vocabulo- que significava gênio bom ou mal- foi tendenciosamente distorcido pela Igreja, que possui um dos fragmentos, pois as concepções do ser e avaliar nunca aproveitaram as divinas intenções da Trilogia Sacrossanta). Os demônios, posteriormente apelidados de anjos, possuiam algo assemelhado as asas, mas assemelhado nunca é, e nunca é próximo, apenas não é distante o bastante para ser algo que renda o valor de "diferente".

Os demônios constituí­dos em muitos e em poucos (mas nunca unificando a um, o qual seria a completa-metade do não-Deus, juntamente com as cadeiras que se sentavam e algumas garrafas de água mal tratada) traçavam as indecorosas relações da existência deles, pressupondo a partir daí­ seu conflito.

Eles eram livres e presos ao não-Deus, sendo esta sua única limitação, mas o último carcere. Eram vaidosos o bastante para crer em sua desgraça e o não-Deus ingênuo o bastante para imiscuir algum desejo nisto.

"- Sinto o meu chamado, e quero os meus pedaços..."
"- Façamos um contato, e completem meu corpo seco"
"- Imperioso do nada belo, conquista da terra estéril, corrói nossa corrente infame e completaremos o seu sentido- falam sua essência"

Continua o seu rito de desespero. O não-Deus convocou uma reunião. Quem o retirou da inércia incessante não se sabe e nem se pretende de certo modo (embora as fofocas sempre corram num mundo, ainda mais quando não se tem tempo a perder"), não se levantou no sétimo dia por que não existia segunda-feira.

De fato, e só por ele, os demônios apresentaram 18 teses (não se tem certeza por que 18 ou se o canto se refere ao infinito- fonograma parecido-, mas aceita-se a primeira hipótese, pois seria insensato crer que eles não pararam, talvez seja somente o medo das cordas e fantoches) sobre aquilo que é por essência a não existência, seu revés da moeda, "a indiferença pela superficialidade".

As 18 teses da superficialidade foram apresentadas uma a uma, em doses grandes e não medidas adequadamente.

Após isso, Deus, a senhora tempo e a morte nasceram. O canto continua, afirmando que foram enviadas todas as teses ao inferno, embrulhado para o Diabo, "que nem na história havia entrado".

As teses foram divididas, ou dividiram-se por si só, representando os pontos de perdição daquilo que representa o que não se pode saber, "para a superficialidade de uma essência" segundo o próprio Deus-completo.

Assim discorre as teses sobre a superficialidade, e nela se encontra o fim sobre sua própria glória.

"Isto terá um fim"

Cantam os antigos...
E não falam nada sobre alegria.
Colocado por Valdemiro as 9:30 PM 1 Comentário(s)