segunda-feira, janeiro 30, 2006
O poeta não morreu...


Ontem conversei com três amigos até as três horas da manhã.
Comentavamos como as coisas haviam mudado.
Dentro do espaço, cinema e bares.
Eu me senti deslocado.
Ontem me diverti com três amigos pelas ruas de Brotas.
Ríamos dos acasos da vida e das besteiras que fizemos nestes anos de amizade.
Eu me senti inquieto e dava voltas pela rua molhada da chuva fina.
Ontem eu ouvi três amigos com seus problemas e amores.
Discutíamos qual a razão de tanta loucura e voltas no mundo.
Eu senti sua falta intensamente.
Queria colocar pra fora quem é você e todas as suas garotas...
Sei que me daria uma resposta.
Ontem três amigos não me falaram como deveria ser forte... mas me fizeram sorrir como você faz.
Colocado por Valdemiro as 7:17 PM 1 Comentário(s)

quarta-feira, janeiro 25, 2006
Sobre as coisas que nunca falei.

Parte 2

Nunca me ensinaram a imaginar. Acreditar nas coisas sim.


Esse é o primeiro passo para o mundo. Precisa acreditar que ele existe. Como se realmente fizesse diferença não o fazê-lo. Se você sente, logo ele existe (copioso enfarte dos clássicos, numa tragédia teatral racionalista). Não há o que dúvidar desta forma. É a resposta mais convicente. Seu alicerce de tranquilidade. Você é real.

Dormi. Finalmente consegui encostar a velha carcaça de nova idade. Modernosa diria minha avó, num saque rápido de palavras. Um carcará ao meu lado. Não. Ilusão. Melhor, miragem ao calor do meu corpo. Músculos se atritando com o lençol da cama suada. Sono difícil. Sono leve. Quase vigilante. A qualquer coisa tocar, aproximar-se ou observar-me.

Não quero ser tocado. Mas eu desejo. Minha culpa. Contradição.

Teto escuro se aproxima e vira para uma porta distante. Levantar dificultoso, bem diferente do sono. Água. Muita. Pelo corpo. Esfria. Meu corpo. A água leva parte do que está em mim. Coisa ruim. Sai com a água. Mas ela é transparente. É parte de mim então? A toalha está pesada. Pesada demais para uma toalha. Pesado demais para mim. Não estou bem.

Ninguém. Não há uma alma viva. Logo hoje. O sofá está limpo. As outras camas arrumadas. A televisão desligada. A sala escura. Sem limitações, existe o ninguém. Sem alguém para ser, eu não sou alguém. Apenas me misturo com espaço e dor. A febre me aquece e a moleza torna o ar rarefeito. Tenho forças para voltar para a mesma cama suada. E desistir da calma triste que este momento me traz. Dependência. Saudade. Desespero.

Aquele momento é o encontro. Da minha desistência com a inutilidade de todos os meus atos. Precisar. Negar. Aquilo que nunca me abandonou. Meu abandono. Minha autosuficiência. Minha derrota. Minhas ruínas. Ninguém. Um grito. Um choro. Um sorriso. Loucura. Sensatez. Minha cama.

Meu sonho não será este. Não vou acreditar nas pessoas. Elas não estão nos meus delírios. Mas me visitam durante a minha mais singela imaginação.

Manhã. Meu corpo não levanta. Até que me limitem. Barulho de ônibus lotado de desejos. Saindo pela janela. Sorrindo do acaso. Esperando no ponto atrasado. Estou limitado aos homens. Serei um também? Não vou acreditar nas pessoas. Elas me tornam real.

E a realidade me toca demais.

Por ocasião do tempo, .../.../ 2017, entrego-me em teus braços.
Colocado por Valdemiro as 11:08 AM 0 Comentário(s)

segunda-feira, janeiro 23, 2006
Sobre as coisas que nunca falei.
Parte 1.

Não é preciso ser tão sincero com as pessoas.

Elas acabam não gostando disso. Não mesmo. Posso ser meio encucado com o que elas fazem. Mas falso não sou. Não sou mesmo. Posso até não falar a verdade de vez em quando, mas falso nunca. Jamais enganaria ninguém...

Minha mãe já havia ouvido aquelas mesmas palavras trezentas vezes, eu poderia jurar que lá no fundo ela estava repetindo meu discurso com lábios imaginários e adivinhando cada palavra com um sorriso de canto de boca. Herdamos a péssima mania de minha avó. Ela me disse. Nunca a vi. Morreu antes. Infortúnio, dizia ela. O mesmo que levou tantos outros cantos de boca com sorrisos sarcásticos. Minha mãe era sarcatisca, eu acho. Não sei o que significa isso, mas o incomodo que me traz é intenso. Com raiva e medo dela já saber do que não estou sendo sincero. Ela tem poderes mágicos. Bruxas também. Não queria completar isso em minha mente, deve ter outra razão pra minha mãe não ser uma bruxa. Ela é do interior, e bruxas são sempre das grandes capitais romenas ou estadunidenses.

Você rodeou, peru, mas, como sempre, não explicou nada.

Ela me pegou. Perfeita sicronia de pergunta e olhar. Típico comportamento materno. Esta sem dúvida é uma espécie perigosa e ardilosa. Mais até que as bruxas. O que ela esperava de uma criança de poucos anos de experiência consciente neste mundo complexo e caótico? Não saiu uma palavra. Nenhuma. Defesa e ataque estavam perdidos àquela altura do campeonato. Bastava naquele momento decidir entre perder com honra ou receber um castigo mais leve, delatando os companheiros de luta.

Ser sincero de vez em quando é bom. Ajuda as pessoas. Como eu, ela disse, sugerindo um suposto agrado por aquelas informações. Tensão. Ser ou não ser? Resisti bravamente, e o choro começou a sair. Acreditava que tinha uma chance até poucos momentos antes, mas este choro denunciador acabou com o restante das probabilidades de uma fuga cinematográfica. Fiz uma coisa errada. Me convenci que fiz apesar de estar na hora comigo mesmo ao ter feito. O meu choro é um grande argumento diante do meu juri. Minha mãe é uma pedra. Na verdade, a melhor definição é uma pedra de gelo, por que queima também. Ela não se importou nem com a primeira nem com a última lágrima. A santa inquisição materna (e que estava acima do pai, filho ou do espírito santo que nunca comparecia nestes moementos oportunos...) esperava meu corpo em sua grande fogueira e queria fazer um grande churrasco por ocasião do acontecido.

Somente se passaram 5 minutos.

Sei que lembrar disto depois de 15 anos de saído de casa não tem sentido algum. Somente olhar para o mesmo relógio velho e perceber que estou com uma saudade traiçoeira. Daquilo que não posso ter novamente. Eu acho. Não posso ser sincero se apanhei ou não. Seria fazer com que perdesse o interesse sobre o que falo. Minha mãe sim poderia dizer. Ela poderia tudo, até sorrir sarcasticamente. E eu, sentado a seu lado sorrio da mesma forma inconsequente. Talvez possa sentir seu medo e receio de estar sendo lida como um livro aberto. Até demais, descolando algumas páginas. Páginas soltas. Eu entreguei meus amigos. Foi legal, mas não fui sincero com minha mãe. E ela sabia e sorriu. Ela sorriu de uma maneira diferente, como se seus olhos fossem grandes faróis de luz castanha resplandecente. Não conhecia nenhuma dessas palavras antes. Agora sinto-me bem em poder definir isso pra alguém. Sendo sincero, acho que me conforta me explicar isso tudo e poder definir pra mim mesmo o que mamãe fez.

Provavelmente nunca me falaria aquilo com a boca, somente com os olhos. Ela me deu uma carta de confiança por não ser sincero todas as vezes. Todas as vezes que posso fazer com que os olhos das pessoas se tornem faróis.

Não é preciso ser tão sincero com as pessoas.


Por ocasião do momento, ... /... / 2017 , entrego-me a teus braços.
Colocado por Valdemiro as 12:24 PM 0 Comentário(s)

sexta-feira, janeiro 13, 2006
Terceira tese sobre a superficialidade.

A Superficialidade pela indecência


Continua ainda a me perseguir.
Não você por obvio. Não é um estorvo no fim das contas, apenas um mosquito que tem um comportamento típico: Barulho e picadas, mas não resiste a um simples fechar de mãos.
Risos a sua insignificância? Vou me cansar, aliás, o que me amedronta está ainda longe de sua capacidade de entender as coisas.
Aquele que está próximo do candeeiro é o primeiro a ser iluminado, ouviu dizer não? Mas te afirmo que aquele que tem o candeeiro tão perto de si é o primeiro a se queimar no calor de sua luz.
Que sirva de consolo para você, quando formos consumidos pelo que tanto procuramos.
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Espaço e forma se delinearam no mundo.
Existiam ainda 16 demônios.
E um Em-Deus.
Tato.
Seria o primeiro sentido na criação?
A existência se fez pesada e os corpos se desfigurando como se fora líquido começam a pingar de cada quadro do espaço.
Neste momento não se fez menções ou reflexões sobre o acontecido ou o que estava ocorrendo, eles apenas se roçavam e misturavam como tintas.
Cores.
Variadas.
Um denso caldo.
Caldo espalhado por todo lugar.
De desejo?
Sem limites corporais para tocar o que não é seu.
Mas o que é seu para ser tocado?
Grande massa.
De pecado. Tocado. Inexato.
Um somente.
E por que não terminou desta forma?
E por que não continuar nesta forma?
E por que não estar sempre em disforme constante do nada e do tudo...
Todos reis, todos servos.
De onde surgiu o limite e a indecência, daqueles que conjuntamente estiverem em um só...
Gritos.
Somente eles.
Primeiro um.
Depois uma multidão furiosa sobre eles.
Vários pedaços se fizeram da massa disforme e o que sobrou dela se transformou em uma criatura pegajosa e ofegante, mas elegante e portentoso em seu devir.
Noc-Deus.
Aos seus pés 15 demônios.
Será uma contagem regressiva, ou apenas uma ilusão para que fiquemos satisfeitos com nossos parâmetros mediocres de certeza ou insanidade.
Algum dia saberei.
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O toque profundo da indecência


O corpo é o lugar do ritual.
E nele se encerra o limite do ser humano.
Apenas dele, pois outro qualquer ser existente assim não pensa.
Precisamos estar preparados para enfrentar o corpo.
Para não cair em tentação.
Para não desvairar o pecado.
Para não libertar a indecência.
Separado.
Somente junto após o ritual.
No corpo.
Corrompido.

É preciso protegê-lo para que outros não vejam. Somente a nudez é permitida. Apenas a do corpo. Tocar por dentro é proibido. É indecente.
A mente é decadente neste estado. A alma é lugar de ritual, e não pode ser tocada por quem deseja. Apenas após o cárcere e o grito. É preciso escondê-la para que não se sofra pela presença. Não é possível abraça-la. A menos que sofra o castigo pela indecência.

A alma é lugar fechado. E não se abre até que se perceba que o rito não pode ser quebrado, por mais vazio que o seja. A indecência é praga, pois o homem não pode ser senhor da entrada de sua casa.

Não deixa entrar e nem sair, pois tocar suja as mãos.
Impuro.
Incorreto.
Indecente.

Corpo e alma não podem estar juntos.
Irmãos não se tocam.
Somente depois do ritual.
Tocar é indecente, afinal nunca estivemos juntos.
É indecente.
Esse homem.
Esse corpo.
Essa alma.

Posso te tocar?
Fragmento encontrado em Sodoma após o fogo da destruição. Muitos indícios históricos apontam que o fogo foi provocado espontaneamente e todos esperaram pacientemente sua morte num grande encontro da "indecência".
O Fragmento foi perdido.
Espera-se.
Colocado por Valdemiro as 2:17 PM 2 Comentário(s)

O acaso.


Conto maldito, quem é você?

Noite
Noite
Noite...

Sempre voando às esquinas e becos
Escondendo a face a cada semáforo
Deformado pelos tapas fadados a boca e o incessante choro irritante, os dois em proporções definidas pelo destino.
O tempo morreu a alguns segundos dos campos de Salinger
E nós não percebemos...

Olhar indecente, quando o fez?

Triste
Triste
Triste...

Não é um corvo de Poe para emitir sons tão grotescos
Eu não permito que o seja.
Espera na escadaria e pede um pedaço de pão pela manhã
Não matará sua fome, por que esta será eterna
E como seu castigo, sempre voltará com os mesmos pedidos...
Da semana em que fui indiferente aos seus impasses.

Perfeição perspicaz, perdeu aos pés do castelo?

Espaço
Espaço
Espaço...

Mas Kafka não te dará mais do que você deseje ou grite de forma lúcida
Não espere por benevolência daqueles que não o enxergam
E que porventura ou desventura você se tornou invisível
Contrasenso de sua necessidade doentia...
e assim o medo contamina sua água a cada gota.

Séculos e quilometros de poesia para entender sua imensa solidão...
De uma figura disforme pela própria capacidade de ser homem e Deus de sua criação
E suportar todo o peso de ser o próprio...
Por completo...
Colocado por Valdemiro as 8:21 AM 1 Comentário(s)

sábado, janeiro 07, 2006
Peregrinação pela causa rebelde...

Demorei a escrever sobre as coisas.

Em parte estava certo (sobre a desenvoltura modernosa de minhas cantadas) e em outra, fugindo da lógica de qualquer um que não seja um estranho em fogo amigo, também estava (além do enredo problemático da minha respiração consciente).
Mas, aqui estou preparando as camisas para o sol e poeira do mundo (do colarinho não falo em demasia, aliás, é tormentoso e torturante pensar na foto engomada sobre a prateleira).

Como sempre a cortesia é uma faca afiada e nervosa pela carne alheia.
Para além do simples sorriso, do olhar quente, das mãos juntas e de uma tarde perfeita. Sorrateiramente esperto, meu espelho ainda sorri, talvez debochando das premissas erradas do meu filme, meio monólogo, com a face santa, mente pervertida irrefreável e uma fome foraz.
Este é meu inferno (e deliciosamente meu).
Mas quem deseja o céu, sinta-se a vontade para não estar ao meu lado. Não significa que estou servindo (apenas) ao diabo, mas que amanhã não vou me curvar a dois senhores, somente ao único que fecha a porta pelo lado de dentro.

Algum motivo essencial para uma vida desregrada, ou será que o tenho tão introjetado a ponto de estar inerte a pensar sobre o fato?
Minhas asas (finalmente) estão abertas (novamente) e quem olha não sabe se pouso ou me preparo para o vôo (prefiro que assim seja, não se trata de surpresa, apenas de se ter um pouco de privacidade em relação aos não íntimos). Somente os incubus me compreendam bem afinal. De cada palavra não se minera nada especial, exceto uma "nova" idéia de estrada, correnteza, folhas secas e horizonte.

Um corte limpo e fatal.
Colocado por Valdemiro as 10:13 PM 2 Comentário(s)